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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

RIO JORDÃO ESTÁ DESAPARECENDO

Magazine › Mundo

Quinta, 9 de novembro de 2006, 07h57

O Rio Jordão Está Desaparecendo

Moisés Storch
Terra Magazine tem publicado, semanalmente, duas visões sobre o conflito no Oriente Médio. Leia abaixo um artigo de Moisés Storch, coordenador dos Amigos Brasileiros do Paz Agora. O tema e a abordagem são de livre escolha dos autores.
* * *

O jornal Jordan Times reportou a conclusão da Unity Dam Represa da Unidade, um empreendimento conjunto sírio-jordaniano sobre o rio Yarmuk, maior afluente do baixo Jordão. A barragem represará cerca de 110 milhões de m 3 da água que alimenta naturalmente o Rio Jordão durante o inverno, em seu curso do lago da Galiléia Kineret até o chamado Mar Morto.
Hoje em dia, mais de 90% das águas que antes fluíam para o Jordão já foram capturadas e desviadas. 60% desviadas por Israel através do Aqueduto Nacional construído nos anos '60, e o restante por barragens construídas pela Síria e pelo canal jordaniano do Rei Abdulá. Agora, com a conclusão da Unity Dam, o Jordão poderá secar completamente no próximo verão e vários de seus trechos secarão até mesmo no inverno, conforme alerta a FoEME - Friends of the Earth/Middle East ( www.foeme.org).
A ONG, que reúne ambientalistas jordanianos, palestinos e israelenses, apela pela recuperação urgente do rio Jordão através do aumento da vazão de seus afluentes.
Conforme a organização, 92% das suas águas já estão sendo utilizadas para consumo humano. A nova represa reduziria a vazão de água do rio - sagrado para milhões de pessoas no mundo - em mais 25%.
O Jordão já se transformou num canal poluído que serve principalmente para receber o esgoto de comunidades israelenses, palestinas e jordanianas. Mas Efrat Farber, do departamento de geologia da Universidade Ben Gurion, diz que o fluxo de esgoto precisa continuar, enquanto o rio não recuperar fontes consistentes de água limpa. Segundo ela, a interrupção do despejo de esgoto aumentaria a salinidade do rio e prejudicaria ainda mais o eco-sistema e o uso da sua água para irrigação. Ironicamente, é o esgoto que manterá o rio vivo...
No último 18 de outubro, no Dia Mundial do Monitoramento da Água que se realiza há 4 anos em 50 países, foi divulgado um estudo conjunto da FoEME com órgãos israelenses da área ambiental, avaliando a qualidade das águas do baixo rio Jordão. Os resultados são muito preocupantes: os níveis de oxigênio da água estão quase 50% abaixo do desejável e sua condutividade é 3 vezes maior do que a das águas do lago Kineret.
Esses indicadores refletem o despejo de esgotos sem tratamento e de água salgada, assim como o desvio das fontes que alimentam o Kineret. Segundo um órgão ambiental de Israel "esta poluição há muito vem prejudicando o eco-sistema do rio. A flora e a fauna inerentes a águas limpas não existem mais".
Matando o Mar Morto
A captação das águas do baixo rio Jordão é também um golpe fatal no Mar Morto, na verdade um lago que está perdendo 80 cm por ano no nível de sua superfície e gradualmente desaparecendo. "Um terço da área superficial do Mar Morto já foi perdida nos últimos 50 anos como resultado do desvio de suas águas combinado com atividades de mineração", diz Michal Sagiv da FoEME.
Nos anos 60, o volume de água entregue pelo rio ao lago era de 1,3 milhão de m 3/ano. Hoje só 200 mil m3 chegam até ele anualmente. Além disto, a exploração intensiva de potássio e a drenagem desordenada do lago por empresas israelenses e jordanianas têm acelerado a evaporação.
A secagem do Mar Morto também provoca a desestabilização do solo em suas margens, num processo silencioso de erosão subterrânea. Têm aparecido repentinamente buracos de até 7 metros de profundidade por 7 de largura, que põem em risco as casas e estradas da região. Uma pesquisa recente revelou que centenas de buracos como esse têm surgido nos últimos anos junto ao Mar Morto, sem nenhum sinal prévio, com riscos de graves desastres.
A Solução: Cooperar
Uma forma factível de reverter o processo de extinção do Mar Morto é implementar um acordo firmado há pouco mais de um ano entre ministros da Jordânia, Israel e Autoridade Palestina, com o intuito de desenvolver, coordenadamente, um grande projeto para trazer água do Mar Vermelho para o Mar Morto através de um complexo de canais e dutos com 180km de extensão.
Contando com o apoio do Banco Mundial, o empreendimento tripartite não apenas salvaria o "mar", mas também contribuiria para melhorar substancialmente as condições de vida dos habitantes daquela região desértica.
O projeto proveria amplas populações - palestinas, israelenses e jordanianas - com até 800 milhões de m3/ano de água potável, através de modernas tecnologias de dessalinização.
O projeto proveria amplas populações - palestinas, israelenses e jordanianas - com até 800 milhões de m3/ano de água potável, através de modernas tecnologias de dessalinização.
Além disto, em função das excepcionais diferenças de cota entre as duas extremidades do canal ¿ o "mar" Morto situa-se cerca de 400m abaixo do nível do mar Vermelho ¿ seria criada uma importante fonte sustentável de energia hidrelétrica limpa.
Em contraste, a construção da Unity Dam é mais um exemplo da falta de um planejamento abrangente para administrar adequadamente os escassos recursos hídricos da região. Na ausência de cooperação, são escolhidas soluções de curto-prazo, que no futuro provocarão prejuízos incalculáveis. O meio-ambiente não conhece fronteiras, e os danos a um país vizinho inevitavelmente afetarão, direta ou indiretamente, aquele que os provocou.
Para garantir a sobrevivência do rio Jordão e o padrão de vida de milhões de pessoas que dele dependem, é necessário também incluir a Síria e o Líbano - países onde estão seus principais afluentes - em esforços de cooperação, viáveis e urgentes, que beneficiarão a todos os que vivem na região.
É preciso canalizar energias para a paz.

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