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quarta-feira, 3 de março de 2010

HAGIOGRAFIA




Professora Doutora Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva
O termo hagiografia possui raízes gregas (hagios = santo; grafia= escrita) e é utilizado, desde o século XVII, momento em que se iniciou o estudo sitemático e crítico sobre os santos, sua história e culto, para designar tanto este novo ramo do conhecimento como o conjunto de textos que tratam de santos com objetivos religiosos (Delehaye, 1973, p.24).
São considerados textos de natureza hagiográfica os martirológios, necrológios, legendários, revelações (visões, sonhos, aparições, escritos inspirados, etc.); paixões, vidas, calendários, tratados de milagres, processos de canonização, relatos de trasladação e elevações (Linage Conde, 1997, p. 283-4), já que possuem como temática central a biografia, os feitos ou qualquer elemento relacionado ao culto de um indivíduo considerado santo, seja um mártir, uma virgem, um abade, um monge, um pregador, um rei, um bispo ou até um pecador arrependido.
A literatura hagiográfica cristã iniciou-se ainda na Igreja Primitiva quando, a partir de documentos oficiais romanos ou do relato de testemunhas oculares, eram registrados os suplícios dos mártires. Porém, a hagiografia desenvolveu-se e consolidou-se na Idade Média, com a expansão do cristianismo e a difusão do culto aos santos. Ainda hoje este gênero continua profícuo, tal como é possível verificar pelos diversos títulos que continuam a ser publicados, principalmente pelas editoras religiosas.
Durante o Medievo foram produzidas uma grande quantidade de hagiografias. Tais obras possuíam caráter privado e foram redigidas principalmente pelos eclesiásticos. Num primeiro momento foi utilizado o latim, língua dos cultos e da igreja, para a sua redação, já que o seu público era formado prioritariamente por clérigos regulares e seculares. A partir dos séculos XI, XII e XIII, face às inúmeras transformações que se processaram na Europa Ocidental, as hagiografias foram sendo escritas, ou traduzidas, nas diversas línguas vernáculas, passando a alcançar, portanto, um público mais amplo.
O objetivo destas obras era múltiplo: propagar os feitos de um determinado santo, atraindo, assim, ofertas e doações para os Templos e Mosteiros que os tinham como patronos; produzir textos para o uso litúrgico, tanto nas missas como nos ofícios monásticos; para leitura privada ou como textos de escola; instruir e edificar os cristãos na fé; divulgar os ensinamentos oficiais da Igreja, etc. (Dubois, J., Lemaitre, J-L., 1993, p. 74). Desta forma, tais textos eram importantes veículos para a propagação de concepções teológicas, modelos de comportamento, padrões morais e valores.
As hagiografias medievais não apresentam unidade quanto à forma, organização ou processo de composição. Estas não só privilegiam aspectos diferenciados da vida dos santos, enfatizando ora a morte, ora a vida, ora os milagres, etc, como também foram sofrendo adaptações em função de novos critérios estéticos e diferentes exigências literárias. Além disso, muitas obras foram sendo reescritas e adaptadas, sem contar com as compilações e as já mencionadas traduções.
Os textos hagiográficos não só apresentam diferenças formais, como também incorporam concepções diferenciadas de santidade. Vauchez, um dos mais importantes estudiosos europeus sobre a religião e religiosidade medievais, demonstrou como no decorrer da Idade Média foram se transformando os ideais de espiritualidade e, por extensão, as concepções de santidade e a própria hagiografia.
Baños Vallejo, seguindo a perspectiva literária e o método histórico-descritivo-comparativo, concluiu que existiu um gênero hagiográfico na Idade Média e que este se distinguia não pela forma dos textos, mas por seu conteúdo. Para este autor, seriam traços comuns dos textos hagiográficos medievais a apresentação de três elementos fundamentais: as ações realizadas em vida pelo santo e que retratam o seu desejo pela santidade, a morte vista como processo de aperfeiçoamento e, finalmente, os milagres post-mortem, como sinal do êxito e comprovação da santidade desejada pelo santo.
Faz-se importante também ressaltar que os textos hagiográficos não eram considerados textos canônicos ou teológicos, mas obras com caráter festivo, que objetivavam comemorar a vitória do santo contra o mal, o diabo e a morte. É por isto que as hagiografias eram lidas nas festas, nos refeitórios monásticos, nas escolas e em locais públicos, como praças.
Muitos autores consideram a hagiografia como um tipo específico de texto literário, próximo à ficção, e não um texto de história. Como assinala Carbonell, "... o próprio facto de tal literatura ser designada pelo termo, tornado pejorativo entre os historiadores, de hagiografia, pode fazer crer que já não se trata de história". Porém, como assinala Leclerq, os homens da Idade Média, ao escreverem sobre santos, acreditavam estar fazendo História.www.ifc.ufrj.br/~frazao/hagiografia

Um comentário:

Cristi@ne disse...

:)Oi querida...
Tudo bem?
Estou passando por aqui para oferecer com todo carinho uma declaração de Amizade Sincera...
Está na postagem de hj no meu infinito... espero que aceites, pois és uma das escolhidas para esta declaração sincera... ;)

Te espero!
Ótimo findi pra vc
Deus a abençoe!
Bjs
:D

 
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